quarta-feira, 21 de abril de 2010

Mesmo assim

(Mulher chorando - Pablo Picasso)



Mais um dia nasceu. E mais uma vez morri na noite que se escondeu para que ele aparecesse.
Com o peito ardendo em chamas decidi seguir mesmo assim.
Coloquei na mala o ouvido que me sobrou depois de tê-lo tirado o som da sua voz.
Respirei gotas de ar com o nariz que, por não ter mais seu cheiro, se desencantou.
Vesti a pele dolorida pelo ferimento do abraço que faltou.
Escolhi tirar os sapatos e seguir descalça com a única liberdade que restou.
Pés na terra. Uma espécie de tentativa de evitar a explosão.
Encolhida nos olhos encharcados  que não me deixaram ver o caminho.
Eu fui mesmo assim.


Só não se sabe pra onde...

Um comentário:

Joana Cristina disse...

Tá,

que consciência do momento e que capacidade incrível de falar sobre a dor sentida, meu peito ficou apertado e doido. Beijo grande. Te amo muito. mamãe