domingo, 18 de setembro de 2011

Rosemarian


Era algo exatamente assim que ela queria escrever


Mas as palavras, por si só, decidiram no silêncio viver


E, puseram-se, assim, a alma aquecer


Tal como a primavera ao florescer...

quinta-feira, 7 de abril de 2011








Eu sou professora.

Ontem fui a um encontro com Peter Moss, professor pesquisador da Universidade de Londres.

Antes de ontem eu não o conhecia e o que me levou ao tal encontro foi o seu tema: a Educação Infantil como Projeto Ético e Político.

Todas essas palavras são do meu mais sincero interesse.

Durante o encontro tivemos a notícia de que o projeto de piso salarial dos professores tinha sido aprovado. Causou certa emoção.

Nós, que lá estávamos, pensávamos juntos sobre a Educação das nossas crianças.

Era um inglês que nos falava e que, de alguma maneira, nos dizia que as nossas crianças também eram as crianças dele.

Compartilhamos, por algumas horas, ideias sobre como colaborar para que as minhas, as suas, ou as nossas crianças cresçam e se formem, principalmente, como bons seres humanos.

Nosso mundo está carente deles.

Falamos da escola não como espaço de reprodução da sociedade, mas como um lugar de reinvenção da democracia.

Falamos de diálogo, encontro e interdependência. Ninguém existe sozinho. Um ser humano se faz de outro, ou muitos outros, seres humanos. É só assim que perpetuaremos a espécie.

Eu escolhi ser professora interessada, de alguma maneira, no meu próprio bem estar: o de viver em um mundo mais digno.

Eu escolhi ser professora porque acho um privilégio, dentre todos os seres que compõem essa imensa natureza, ter nascido um ser humano.

Fui às crianças por que são elas quem mais sabem sobre o assunto. E para oferecer-lhes uma troca a altura, passei a esforçar-me, diariamente, para ser um adulto merecedor de conviver com crianças em sua mais tenra idade.

Ontem, de alguma maneira, eu zelei pelas crianças. Hoje, chorei por elas.

Eu ainda não tenho filhos, mas as crianças das famílias do Rio de Janeiro são também as minhas crianças. E foram brutalmente assassinadas dentro de uma escola, lugar onde eu também passo a maior parte do meu tempo e exerço meu maior entusiasmo pela vida.

Depois da notícia fui subitamente invadida por uma perplexidade muda.


































quinta-feira, 24 de março de 2011

Palavreando

Era atraída, no começo dos tempos, pela palavra justiça.
Trilhou o melhor caminho que conseguiu negociar com o próprio destino.
Deparou-se com o justo e suas cabíveis diferenças.
Soube melhor daquela palavra e felicitou-se por não pertencer à lei.
Pisou à frente do que sempre fora.
À ela coube um caminho maior: tempo de desembrulhar-se escancaradamente.
Só ao saber de si teria alguma possibilidade de saber do outro.
Quando encontrou seu lugar descobriu muitos outros. Dos outros.
Mesmo sem saber, ela sabia: nascera da ética.
Gostou muito das novas palavras e acabou transformando-se com elas.
Aprendeu da possibilidade e viu-se, assim, militante da palavra justeza.

quinta-feira, 17 de março de 2011


sonho poético - Martha Barros


Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo no coração,  que ela perdeu as palavras. Perdeu-se da palavra. Demorou a escrever porque não sabia ainda escrever sem palavras. Sem as palavras ficava só a sensação.  Desencontrou os acentos, e a falta da acentuação casou-lhe certa restrição. Foi preciso reencontrar o til para novamente ouvir o som do coração. Essa era a casa que ela, definitivamente, escolhera para habitar. Era esse o ritmo sob o qual pautava seu caminhar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lamento

Essa noite eu dormi mal. Acordei algumas vezes.

Tive um sonho ruim. Daqueles que você agradece quando acorda.

Durante o dia tentei, em vão, lembrar-me das imagens.

Mas estava embaraçada nas sensações.

Espécie de elaboração avessa: a realidade do sonho.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011




No meio de um devaneio, de tao perdida quase encontrou-se.
Ela buscava o coracao da palavra no pulsar do proprio coracao.
Realizou que encontrar as palavras do pulsar seria como escrever sem acentuar.
Algo sobre o qual nao se pode ou nao se deve escrever.
Ou, se cometer a ousadia de faze-lo, ficaria a escrita pelo meio.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ciranda

Dá um desespero danado transformar.

Principalmente quando a transformação vem do coração.
Não há tempo para a emoção,
Passou despercebida qualquer possibilidade de razão.


Tomou o peito todo com a força da interrogação que há na vida.


Eu deito tremulamente as palavras sobre o papel como única saída possível de apreender o que de mim em mim acontece.


Duas de uma.
Ou uma de duas, se você preferir.
Uma de fato. Duas acontescencias.


Primeiro o coração. Segundo os ouvidos.
Silencio imperial.


Só palavras aparecem desenhando-se em mim, assegurando não tanto a minha essência, mas essencialmente minha existência.


Balanço-me em uma movimentada corda de letras acumuladas.
E, estranhamente, me impulsiono no vácuo do espaço em branco entre elas.


Ciranda de pensamentos do silêncio.