domingo, 25 de julho de 2010

Felicidade

Enquanto nasciam nela essas palavras, surpreendemente, deu-se conta do quanto não tinha palavras sobre a felicidade. E, que não as tinha, por um motivo obvio: nunca tinha, de fato, estado com ela. Carregava, ao longo de sua história vivida, o peso de concepções equivocadas construídas  durante o percurso realizado, e sem o qual, entretanto, ela jamais conseguiria ser - se realmente feliz. Só lhe restava continuar o que há muito tinha começado. Num primeiro momento, a felicidade soou-lhe estranha. Tão desconhecida, que ficava impossível nela reconhecer-se. Sim, ela já havia sido feliz, mas dar de cara com a felicidade era diferente de ser feliz, pois se tratava da liberdade da escolha de ser. Entendeu, verdadeiramente, nesse momento, aquelas frases clichês que dizem que só tem a felicidade quem vai buscá-la. A verdadeira felicidade é árdua e exige esforço por parte daqueles que a perseguem. Sua dimensão, no início, amedronta. É um caminho sem volta e, que você só sabe que vale a pena, depois de adentrá-lo. Para fazê-lo, porém, é preciso arriscar-se e, para correr o risco é preciso coragem, porque o medo já se tem naturalmente. Foi assim, completamente ao seu tempo, que ela se permitiu começar. E, como não poderia ser diferente, começou pelo começo. Deixou cair, dolorosamente, o pseudo-ser-si-mesma para assumir a ignorância de si. Foi somente ao se deparar com seu insignificante tamanho, que se deu conta de sua tamanha amplitude. Apavorou-se, só não se sabe ao certo, se por saber de si tão pequena ou tão ampla. Admitiu a si mesma a nova possibilidade que se apresentava. Foi. E, sem ao menos ter gestado uma criança, mas grávida da própria alma descobriu a felicidade da dor de parto: era o que doía que fazia existir e era, só depois de viver a dor até o fim, que ela delicadamente viu-se a tocar naquilo que mais originalmente lhe pertencia: o começo da história.
Acalmou-se, enfim.
E acomodou-se com a felicidade.




terça-feira, 20 de julho de 2010

Ressaca

...


Quando você encontra com uma pedra sozinha,ela é só uma pedra.
Quando você se depara com uma multidão de pedras, elas se transformam em história.

Quando você fica frente a frente com um homem sozinho, vê um único homem.
Mas quando você se vê como parte da multidão, compreende a humanidade do homem que você é


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Palavras



E antes mesmo que eu pudesse ouvi-las, já as escutava.
Elas foram chegando, simplesmente.
Não precisavam exatamente que eu as quisesse, bastava ser-lhes a portadora do silêncio que elas, já antes de mim, habitavam.
Uma a uma construíram-se para depois contarem-se.
Desta vez com o coração calmo e a alma tranqüila.
Sem impactos, sem furor. Nem de ódio e nem de amor.
Construíram-se em frases com a mesma precisão com que se levantam as paredes de uma casa.
Misturaram-se, com impressionável delicadeza, ao tempo da espera que lhes foi ofertado.
Encontraram-se as palavras reunidas em si mesmas e a partir delas fizeram nascer outras.
Eu, refém.
Imobilizada pelos sons mudos pronunciados sem permissão, me rendi.
Eu, rendida.
Ouvindo-lhes sobre a construção, passei eu mesma a lhes servir de morada.
Encontrei-me com palavras esquecidas.
Encostei-me com cautela naquelas que ainda não foram vividas.
E foi durante um sonho que elas se materializaram podendo ser ouvidas!
Palavras?