quinta-feira, 24 de março de 2011

Palavreando

Era atraída, no começo dos tempos, pela palavra justiça.
Trilhou o melhor caminho que conseguiu negociar com o próprio destino.
Deparou-se com o justo e suas cabíveis diferenças.
Soube melhor daquela palavra e felicitou-se por não pertencer à lei.
Pisou à frente do que sempre fora.
À ela coube um caminho maior: tempo de desembrulhar-se escancaradamente.
Só ao saber de si teria alguma possibilidade de saber do outro.
Quando encontrou seu lugar descobriu muitos outros. Dos outros.
Mesmo sem saber, ela sabia: nascera da ética.
Gostou muito das novas palavras e acabou transformando-se com elas.
Aprendeu da possibilidade e viu-se, assim, militante da palavra justeza.

quinta-feira, 17 de março de 2011


sonho poético - Martha Barros


Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo no coração,  que ela perdeu as palavras. Perdeu-se da palavra. Demorou a escrever porque não sabia ainda escrever sem palavras. Sem as palavras ficava só a sensação.  Desencontrou os acentos, e a falta da acentuação casou-lhe certa restrição. Foi preciso reencontrar o til para novamente ouvir o som do coração. Essa era a casa que ela, definitivamente, escolhera para habitar. Era esse o ritmo sob o qual pautava seu caminhar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lamento

Essa noite eu dormi mal. Acordei algumas vezes.

Tive um sonho ruim. Daqueles que você agradece quando acorda.

Durante o dia tentei, em vão, lembrar-me das imagens.

Mas estava embaraçada nas sensações.

Espécie de elaboração avessa: a realidade do sonho.