sábado, 27 de março de 2010

Ela

Ela tinha o estranho hábito de se encantar pelas profundezas, e este era o motivo óbvio pelo qual nunca se deixara seduzir pelas grandiosidades da vida.
Ela só poderia ser mulher.
E só poderia preferir as formas arredondadas.
Seus olhos?
Preferiam sempre o “bom e velho olho-no-olho”. Nem um pouquinho pra cima, nem minimamente para baixo.
Ao justo alcance simplesmente.
Era capaz de mover o corpo inteiro para não perder o foco (para as crianças joelhos ao chão, aos jovens, aos loucos e aos inimigos a ajustada altura e aos velhos sua sincera reverência), o que não lhe diminuía em nada os espantos que tinha a cada novidade da vida.
Ela não era tão nova quanto parecia e nem envelhecida, o suficiente, para deixar de acreditar no amor.
Em movimentos precisos e vagarosos ela se colocava adiante pé-ante-pé.
Poder-se-ia até dizer que ela caminhava, não fosse sua inabilidade em manter a linha reta.

Um comentário:

Paula disse...

Thais,

Consegui acessar seu blog e adorei! Cada coisa linda que você escreve, menina! Me emocionei com esse texto sobre a mulher inábil para manter a linha reta mas tão capaz de regular sua altura de acordo com aqueles com quem fala para poder manter o olho no olho e, principalmente, ainda capaz de acreditar no amor.
Gostei muito de conhecer esse seu lado literário, a sua intimidade com as palavras (usadas em outro contexto e com propósitos muito especiais)!
Me mantenha informada sobre as novidades, ok?
Um beijo,
Paula