sábado, 9 de maio de 2009

Deveria existir uma só palavra entre o bem e o mal. Parte II


Enquanto eu lia o texto passei também a considerar a profissão da escrita.
Como todas as outras, impossível de se realizar em si mesma. Não há escritor se não houver quem o leia, assim como não há professor se não houver alunos que dele precisem.
Desde os primórdios da nossa história as profissões foram ocupando degraus em uma espécie de podium. Não de colocações propriamente ditas, como acontece nas competições, mas de status. A falta de aprofundamento dos capítulos anteriores da história não me permite apontar os critérios adotados na época, ainda assim, pelo pouco que me aproximei pude constatar que pouco mudou.
Aos artistas, no entanto, sempre coube um lugar peculiar. Embora os artistas vivam de seu trabalho, a arte propriamente dita parece estar em um lugar para o qual não há uma designação tão clara. Considerá-la como profissão tiraria seu encanto? Quem encantou a arte? Quem a fez ou quem a contemplou? Seria o encantamento fruto de um encontro de ambas as partes?
O fato é que não só a arte, mas principalmente os artistas também foram escritos artisticamente. Enquanto escrevo essa pequena reflexão novas imagens vão se aproximando, mas desta vez são imagens vistas em uma aula de história da arte.
O professor nos contava a história de Van Gogh enquanto víamos alguns de seus trabalhos. Havia ali uma nuvem misteriosa que sem palavras parecia contar o quanto era preciso ser louco para pintar o que ele pintou.
Não me parece recente a ideia de que os artistas pouco atendem à sua razão, e que se o fizessem perderiam todo o encanto, ou o poder de encantar. Aqui me sobra uma importante questão: onde foi que entendemos que a razão não faz bem ao coração? Por que a desconsideramos do campo das emoções?
Parece-me haver aqui um equívoco, uma mistura de razão com desumanização, algo que neste momento me deixa discretamente perplexa tendo em vista ser esta uma das características fundantes do homem. Sem a razão, sem o pensamento lógico, a organização mental, o que seria de nós? Conseguiríamos, ainda assim, produzir algo tocante ou deixar que algo nos tocasse?
Acho que há uma urgente necessidade de limparmos nossas idéias. É preciso rever nossas construções, desconstruir pré-conceitos equivocados e reconstruir nossos conceitos.

Um comentário:

Dani Dezordi disse...

Uma artista como você.... encanta e emociona....não sei quem encantou a arte, mas a arte de encantar, provoca emoções e encantamentos inexplicaveis, como o que estou sentindo agora!